O Paradoxo da Inovação: A contradição entre desejar inovação e não fornecer as condições para o seu desenvolvimento

Glauco Madeira
Product & Innovation

A inovação exige uma mudança de mentalidade e o reconhecimento de que muitas ideias podem falhar porque, no início, há apenas um conjunto de hipóteses sobre o que pode fazer sucesso.

Num mundo onde a capacidade de inovar é mais do que desejável, sendo essencial para a sobrevivência e crescimento organizacional, muitas empresas ainda enfrentam um dilema: desejam desesperadamente inovar, mas não conseguem fornecer as condições necessárias para que os projetos inovadores aconteçam. Este paradoxo manifesta-se de várias formas, em organizações de todos os tamanhos e setores. Vamos explorar as barreiras que impedem a inovação e as estratégias para as superar, de modo a criar um ambiente onde a inovação prosperem.

Exploration x exploitation

A inovação requer um equilíbrio delicado entre a exploração de novas ideias (exploration) e a extração do máximo que o atual modelo de negócio pode oferecer (exploitation). Ambos são fundamentais num mundo em constante transformação. Muitas empresas ficam estanques no que se chama exploitation, focando-se demasiado no que já fazem bem, enquanto negligenciam a exploração de novas oportunidades que podem ser essenciais para a sua sustentabilidade. Esta dualidade entre manter o negócio existente e apostar em novos caminhos cria uma tensão que pode impedir o investimento em projetos inovadores.

Tipos de Inovação

Podemos entender inovação como criar valor de formas diferentes. Mas nem todas as inovações são iguais. A distinção entre inovação de eficiência (fazer melhor o que já se faz hoje), de sustentação (novos produtos, serviços e geografias dentro da indústria atual) e transformativa (engrenagens de negócio do futuro com o suporte de novos modelos de negócio) ajuda a contextualizar os diferentes riscos e recompensas. A confusão acerca dos tipos de inovação necessários pode resultar em expectativas desalinhadas entre a liderança e as equipas. Uma empresa que aposta apenas em inovação de eficiência pode estar a caminhar eficientemente para a morte do negócio.

Profissionalização da inovação

A inovação não deve ser tratada como um passatempo ou uma iniciativa secundária. Organizações que têm sucesso neste campo investem em processos e formações robustas. O design thinking e a inovação corporativa exemplificam frameworks que ajudam a criar uma cultura de inovação, fornecendo ferramentas práticas que facilitam a descoberta, desenvolvimento, teste e execução de ideias.

Gap de satisfação

De acordo com dados de grandes consultoras como a McKinsey, existe uma disparidade entre a perceção da importância da inovação e a satisfação com os resultados alcançados. Muitas empresas reconhecem a necessidade de inovar, mas a falta de recursos adequados, formação e processos resulta numa lacuna de execução. Além disso, as pesquisas mostram que para encontrar um “grande campeão” é necessário experimentar com vários projetos, um princípio que os fundos de capital de risco percebem muito bem. Esta abordagem, no entanto, raramente é adotada pelas organizações, que muitas vezes procuram certezas em contextos cada vez mais incertos.

Causas e obstáculos

É difícil apontar apenas um fator. Os principais obstáculos incluem o não envolvimento da liderança na inovação, a falta de tempo dedicada ao assunto, a ausência de formação e ferramentas adequadas, além de processos inexistentes ou ineficazes. A cultura organizacional pode ser resistente ao risco e os líderes frequentemente focam em resultados imediatos, deixando de lado iniciativas de longo prazo. A inovação exige uma mudança de mentalidade e o reconhecimento de que muitas ideias podem falhar porque, no início, há apenas um conjunto de hipóteses sobre o que pode fazer sucesso. Suposições precisam ser testadas na prática, assim como no método científico.

Estratégias para Superar o paradoxo

Algumas estratégias para resolver estes desafios incluem envolvimento do CEO e da alta direção na agenda de inovação (como proposto por Rita McGrath), a implementação de tempo específico para inovar, como a “regra dos 20%” inspirada na Google, que permite que os funcionários dediquem parte do tempo a projetos inovadores, até a criação de aceleradoras internas. Iniciativas de inovação aberta e ferramentas como a Adobe Kickbox ou o DHL Startup Lab Playbook podem ajudar a sistematizar e impulsionar a geração de ideias. Porém, mais do que um ou outro tipo de iniciativa, é importante conhecer as diversas possibilidades e, dentro do contexto no qual a organização se insere, desenhar a estratégia de inovação.

Para superar o paradoxo é necessário que as organizações cultivem uma cultura que celebre a experimentação e a aprendizagem, mesmo que diversas ideias não cheguem a ver a luz do sol. A busca de um equilíbrio entre exploration e exploitation, o investimento numa estrutura profissional de inovação e a adoção de frameworks comprovados podem fazer a diferença entre ficar para trás ou prosperar num mercado cada vez mais competitivo.

Artigo publicado no ECO.

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Glauco Madeira

Consultor de inovação corporativa e design de negócios com mais de 15 anos de experiência, incluindo estratégia de comunicação, planeamento de marketing, estratégia de negócios e formação para clientes como Galp, EDP, Banco de Portugal, Ministério da Justiça, Crédito Agrícola, Cofidis, Grupo IMPRESA, L’Oreal, Sonae Sierra, Sagres, Sumol+Compal e Delta Cafés.

Sócio e consultor do 401 Business Design, uma consultoria colaborativa de inovação sediada em Lisboa. Glauco também é formador de Design Thinking e Customer Journey na Lisbon Digital School e professor convidado na Nova School of Business & Economics nos temas de inovação e Design Thinking.

Alguns Clientes: Banco de Portugal, Casa da Moeda e Autoridade Tributária , Jogos Santa Casa, Deco Proteste, Águas de Cascais, Ministério da Justiça, Galp, EDP, Delta (Grupo Nabeiro), Teleperformance, Mercedes Benz, Volkswagen Autoeuropa, Sonae Sierra, Cetelem (BNP Paribas), Cofidis, Credibom, Crédito Agrícola (com Microsoft), CGD (Caixa Geral de Depósitos), Zeiss, Grupo Sugal e Guloso, Sagres (Central de Cervejas), Ponto PT, Sumol+Compal, Worten, Isidoro (Montalva), Grupo IMPRESA, Planetiers, Nexity, Tranquilidade, PwC, L’Oreal, Mediabrands, Nova Expressão, WyCreative (ex BY)

Atualmente, é também Chief Transformation Officer na Lisbon Digital School. 

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